Pelas Margens da Resistência: Dança, Luta e Liberdade
O texto: Pelas Margens da Resistência: Dança, Luta e Liberdade explora a resistência cultural e social diante do autoritarismo e da opressão. Discute a força da água e do ar como símbolos de liberdade e transformação, destacando a importância das culturas de matriz africana e dos povos indígenas. Critica a desapropriação de terras e o controle estatal sobre as vidas das pessoas, defendendo a autonomia das mulheres e a solidariedade. Também aborda a luta contra a hipocrisia e os regimes de poder, enfatizando a necessidade de um mundo mais justo e igualitário, onde a criatividade e a liberdade sejam valorizadas.
9/29/20244 min read
A água é mole, escorre pelas mãos, passa por debaixo do concreto enrijecido. Um elemento natural que burla qualquer tipo de ação que a tente dominar. A força do ar camuflada pelas sutilezas de seus ventos que sopram para onde a direção jogar. A vela que navega com os imigrantes sustenta toda a tempestade que amedronta tal travessia. Aquela escapada no meio do expediente massante do trabalho que em poucos minutos pode se tornar um oásis em meio ao deserto burocrático do espaço empresarial. Aquela artimanha ao lidar com o autoritarismo. A arte de driblar, subverter, como os espíritos travessos. Olhar no olho do semelhante como gesto de respeito, confiança e transparência. Desviar o olhar de um tirano, não por um suposto medo, mas para dificultar a captura daquele que quer aniquilar o devir-natural-revolucionário. Aqui a revolução não se trata de, brutalidades bélicas, e sim das constantes transformações internas que um corpo estrangeiro possa ser de si mesmo, sendo assim, cooperando para que um tecido social, híbrido, constitua a sua própria história.
O toque do tambor que invoca a força ancestral. A ginga jogada da capoeira que vai para frente e recua como ato sofisticado entre dois polos. A coragem das culturas de matriz africana que não deixaram de dançar e afirmar a vida por conta da pólvora do colonizador. A pintura marcante das matas e de suas terras dos povos indígenas. A serpente que arrasta o garimpeiro rio adentro. A mata como um templo de profundo respeito aos mistérios da vida que antecedem à existência de qualquer sociedade. Aquela doce bagunça em meio a ordem que só causa desordem e desequilíbrio entre os agentes sociais. A greve de tudo aquilo que embrutece a capacidade criativa dos trabalhadores (de qualquer natureza – os desempregados, os moradores em situação de rua, sobretudo).
Desapropriação de qualquer terra e território nas mãos daqueles que negam outros modos de vida. A gaiola e o matadouro aberto pela madrugada nos galpões de engorda de frango. Os sinalizadores acesos nos estádios de futebol resistindo aos burocratas da modalidade. Viva as paredes pixadas, em resistência, rebeldia, poesia, prosa e documentação. Aos malabaristas que estão no sinal fazendo os seus corres. Por mais circos públicos, coletivizados, criativos e por menos igrejas enfadonhamente aniquiladoras de prazeres múltiplos. Aliás, às mulheres, ao matriarcado que fora covardemente soterrado pelo patriarcado. Às mulheres e seus orgamos múltiplos. Que sejam desmascarados todos os machistas até a ruptura da sociedade patriarcal-feudal-capitalista.
Chama no grave, pode chamar, naquele grave do anarcopunk, sem medo, com muita coragem, aquela sedenta, que estremece e incomoda a mentalidade conservadora-burguesa da classe média. Por mais tesão, tesão mesmo, em muitos dos sentidos, do sentido do orgasmo, do sexo, do prazer sensorial do corpo, do orgamos que também pode vir do amor, algo inexplicável, porém sentido por todos os orgãos do corpo daquele que não aguenta mais sofrer com os regimes de poder. Raio X não serve somente para verem os resquícios das substâncias que usamos para fugir da precariedade cotidiana, mas também para enxergarmos as mentiras das igrejas neopentecostais. Por trás de todo moralista patriotra há um canalha hipócrita. Quem caga de medo da verdade, da transparência. Estão amarrados pela raiva do medo de viver uma vida mais libertária, o corpo não aguenta tanta carga energética reprimida.
Pela autonomia das mulheres de decidirem o que é melhor para seus corpos. Autotutela. O Estado-Nação é um projeto tecnológico-político para impor um padrão de sociedade pautado pela produção de mercadorias, pelo consumo e acúmulo de riquezas monetárias. O vagalume que some no escuro, que nenhuma mão violenta consegue capturar. Por levantes que plantam sementes e evaporam pelo ar. Para a imaginação dos envolvidos germinar e atingir as agroflorestas. Que as diversas ações antifascistas possam nutrir outras forças antagônicas à extrema-direita. Que as ruas estejam atentas que, pelo parlamento, as minorias representativas serão engolidas, com a digital do voto estampada lá nas urnas.
Por mais ocupações em casas abandonadas que perderam as suas funções sociais. A dança-luta por terras e territórios dos povos indígenas, quilombolas, camponeses e dos ribeirinhos. A quebra da corrente das relações de dominação. Pelos instintos de potência afirmando as suas respectivas vidas. A todes anarquistas, por suas potentes proposições de mundo, um mundo onde caiba a solidariedade, a ajuda mútua e o amor pela liberdade. É muito mais complexo pensar uma cidade assim por isso os fachos optam por medidas estressadas e raivosas do mais “fácil”.
Um poeta não mata ninguém, ele carrega consigo uma caneta, um papel e a coragem de ser livre. A carabina, o míssel e o drone destroçam em nome da paz e da máquina capitalista. Pensar a poesia, a fantasia, como navegação pelo oceano de nossas imaginações psíquicas e espacial, para com os semelhantes. A água é do corpo, ela é pela vida, para a oligarquia é mercadoria. Por isso estamos pela água, pela terra, pelas espécies, pela floresta, por alimentos, por nutrientes, para nossas vidas.
O som do berimbau, o toque do tambor, o grave do baixo, o molejo do pandeiro, assim com o óleo de dendê, o arroz e o feijão, o cuscuz, as hortas orgânicas, sementes que possam dançar e alimentar a barriga de todo mundo. Queremos tempo, lazer, saúde e paz para todos os corpos existentes.
Gabriel Ribeiro
À Margem
Liberdade
Reflexões anarquistas sobre a sociedade descentralizada.
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