O aroma da alegria: que leva à liberdade
Nesse texto: O aroma da alegria: que leva à liberdade, eu exploro a natureza transformadora do corpo humano, apresentando a ideia de um "corpo-criador" que atua como um "corpo-alquimista". Ao longo da narrativa, questiono a dualidade entre o Eu natural e o Eu social, abordando as dinâmicas de poder nas relações sociais. Faço uma crítica à opressão imposta pelo patriarcado e ao impacto da especulação imobiliária em nossas vidas cotidianas. Me refiro à transição de sociedades matriarcais para patriarcais, destacando a importância da cooperação e da liberdade. Ao enfatizar a necessidade de um corpo alegre e rebelde, busco promover a criação de conexões genuínas e a luta contra as estruturas de dominação. Por fim, convoco os leitores a se unirem em solidariedade e resistência, reforçando a ideia de que a alegria e a coragem são fundamentais para a luta pela liberdade e pela transformação social.
Gabriel RIbeiro
9/29/20247 min read
Quando um corpo-atento para no tempo igual faz um beija-flor no ar: o que esse corpo pode pensar, refletir, imaginar? Me ocorre perceber esse corpo como algo transformador, pois um corpo-criador pode ser considerado um corpo-alquimista, no qual trabalha a matéria e a abstração em suas formulações de algo, de um objeto, de uma ideia. Alguma coisa me diz que podemos pensar aqui um corpo-que-tudo-pode, não no sentido de heroismo nem do antropocentrismo, mas naquele que tudo pode criar, sobretudo sendo um corpo-natural-social. Quem escreve isso daqui, é o meu Eu natural ou o Eu social? A fonte dessa bebida-inflamável da qual acabo de mencionar, se refere ao lindo documento (tese acadêmica) “Tecnologias de poder e a transformação do Eu”, de Clayton Rodrigues, um anarquista-inquieto, assim como “deve” ser. E a partir dessa referência e de algumas outras que forem surgindo em meu oceano (lê-se psique), iremos criando aquilo que a chama forte do fogo da alegria, clama, certamente, dentro de qualquer corpo que sofre nas mãos das relações de poder. Posso ser um corpo-poeta, um corpo-prosa, um corpo-alegre, como queiram, mas por isso serei um corpo-rebelde, aquele que cria, inventa, que gosta do aroma singular de cada corpo-operário-massa. Entende?
Clayton sintetiza com muita delicadeza e responsabilidade, um ponto de partida do surgimento das tecnologias de dominação do ser humano pelo ser humano, e evidente, dando premissas para a lógica do antropocentrismo. Por muito tempo é sabido por todo aquele que de alguma forma, vasculhou ou escutou, que a sociedade do patriarcado é a que predomina. Esse texto aqui tá sendo escrito com a tinta fresca de uma flor especial de Pindorama, portanto, peço a gentileza, corpos-leitores, que abram as suas comportas interiores, e se joguem nessa brincadeira-provocação a qual estou fazendo. Na sociedade matriarcal, não havia competições, expansões, nem a noção de acúmulo, de nada. Dentro da existência nômade, foram sendo percebidas, a necessidade de assentamentos mais permanentes, não por conta de uma suposta fragilidade das mulheres gestantes, ou recém paridas, mas para que elas pudessem ter o tempo e o cuidado suficiente para zelar por seus filhos até poderem ter as suas autonomias. Nessa época, as mulheres possuiam uma força de construção social pela qual a cooperação era um fator preponderante para as relações entre os membros de um grupo-nômade, por exemplo. Não existia a noção de propriedade, de posse, de nada do tipo, muito menos de concentração de terra e de território. As mulheres tinham destaques nas tomadas de decisões. Foram elas que perceberam e escolheram, assentar mais fixamente na terra, para que elas e os seus filhos não corressem o risco de serem atacados por outras espécies animais nem por grupos inimigos. A partir daí vai influenciando na criação de casas, de outros afazeres a mais, no cotidiano desse grupo, que começa a ser compreendido como comunidade – percepção-tecnolgia de proteção do território, dentre outras descobertas sociais.
A cosmovisão do matriarcado era de uma criatividade bem interessante, pois buscava estabelecer uma relação de integridade do grupo nômade com os espaços a serem vividos. O patriarcado portanto ocorre a partir dessa brecha histórica, com muita força bruta, impondo agora, uma nova cultura de ver o mundo: expansão territorial, o Eu-social, senso de comunidade (aquele que pertence a algo), propriedade privada, etc.. Inicia-se também as primeiras divisões do trabalho e consequentemente as concepções hierárquicas entre os sujeitos pertencentes a uma comunidade. Quando uma voz brutal do colonialismo machista grita ao dizer que fora inevitável a tomada de poder pelo patriarcado, saiba que essa retórica é a mesma que tenta justificar a meritocracia. Um pássaro pode me provar que não existe ordem natural das coisas, porque quando o seu voo é desesperado, significa que a explosão da mineração está degradando o solo. A ave que já não vê o rio que recebera o aterramento do agronegócio, é a mesma ave que necessita se deslocar, forçadamente, para os galpões de engorda de frango, colocando a própria espécie em risco, com os patógenos de vírus, como também trabalhadores precarizados nesses locais de trabalho.
A ordem natural das coisas não pode ser proferida por aquele que constitui e concebe a vida pelo cerceamento de liberdade do outro. Para algumas civilizações antigas, não se possuia a terra ou o território, que se plantasse, apenas a colheita era pertencente aos envolvidos. Ou seja, não existia essa aberração do “direito jurídico” ou de propriedade privada, para que alguém pudesse ser o dono de uma determinada terra. A bomba de oxigênio do corpo daquele que pensa a sua existência de forma natural e social, mas que, vislumbra uma liberdade para todos e todas, só ganhará mais ar limpo e inspirador, com a doce-alegria-da-coragem, noção essa que qualquer tirano tem pavor. Se a figura de um autoritário ou algum regime político do tipo, não tivesse medo da alegria-coragem do “povo”, não haveria pólvora direcionada para certos tipos de corpos. Os negros do Haiti foram massacrados por causa de pleitearem as suas liberdades de tomadas de decisões, em seus respectivos “habitat.” Os professores e professoras que tanto tem uma carga excessiva de trabalhos em salas de aula, ficam entristecidos e cansados com a falta de apoio político e da sociedade, para que os seus esforços e atividades, sejam reconhecidas e valorizadas. A liberdade de cátedra que está presente na folha de papel higiênico da Constituição Federal de 88, na prática, é ameaçada por liberais de extrema direita, que são o que são pelo o que falam e pelo o que fazem, ou seja, defendem venda de orgãos, apoiam golpes, odeiam escola e os estudos, dentre outras sandices.
Para você ver, a história vem sendo forjada com a premissa de que ela é isenta de interesses e que a sua trajetória segue o fluxo natural da vida. Pegue uma água de um rio no Xingu – poluída por causa de hidrelétrica – e ponha na boca de um político do parlamento ou de um capitalista que alimenta esse discurso determinista das coisas, para vermos se eles vão digerir sem problemas as merdas que eles produziram, ideológica e politicamente. A história é escrita por autores, agentes, personagens envolvidos na trama, e discursos e narrativas tem objetos de interesse e de análise. As grades, as prisões, a interdições, a censuras, vão aparecendo como dispositivos de frear a busca incessante de um corpo-natural por sua liberdade e aos demais corpos-sociais. Falar de conceitos, teorias, acontecimentos, fatos, implica detalhar os argumentos em abstrações, para que os leitores, ouvintes, possam tecer as suas próprias associações. Até mesmo dentro dos espaços considerados de esquerda, onde os partidos políticos são majoritários, há uma obediência enfadonha, para que a domesticação pensada e elaborada pelos donos dos meios de produção, das terras e territórios, seja cumprida. Com o objetivo de não deixar as pertinentes reivindicações dos insurgentes ou revolucionários, como queiram, tomar força e crescer, para que as lutas e pautas sociais, brotem como uma linda flor, perfumada e atrevidamente sedutora, para todo aquele que de alguma forma sofre por falta de liberdade.
O sufocamento que o operário-massa recebe do patronato, do Estado, da grande mídia, e de todo conglomerado que faz a manutenção do status quo, não se dá só pela questão material da fome, da falta de moradia, somente, mas também em nossos pulmões que rigam a nossa psique para que possamos hidratá-la e criar as nossas autônomas conexões com os nossos semelhantes. Nenhuma terra, água e ar foram feitas pelo homem. A verticalização de uma cidade com os seus arranha-céus, não brota do chão, do nada. Quem pode me dizer isso também, além dos olhares atenciosos daqueles que os observam, são as sombras provocadas pelo concreto de 20 andares, que matou a possibilidade do sol, do ar fresco, de adentrar na rua, e de haver mais terrenos livres. Os que defendem o projeto da “Escola Sem Partido” e/ou a “Reforma do Ensio Médio”, não estão preocupados com a transparência ou uma suposta eficácia da educação para os seus filhos e filhas, mas sim cumprindo a miserável função de serem os sentinelas desse modo de vida pautado pelo trabalho e consumo. Como se a vida se resumisse a trabalhar e consumir mercadoria e, evidente, ostentar aquilo que o outro não pode ter. A classe média segura o bastão todo cagado de merda que a grande burguesia (digamos, os que se apropriaram dos meios de produção, e aquele de espírito, que ganhar 20 mil reais e acha que quem lhe ameaça, é um operário pedindo melhoria em suas condições de vida ou um morador em situação de rua, pedindo alguma ajuda), repassa. Essa classe média, da perspectiva sociológica (que em termos básicos, analisa os comportamentos padrões na sociedade), é contrarrevolucionária, e faz o papel sujo para que os mais vulneráveis, economicamente falando, se sintam diminuidos e posteriormente adoecidos.
Essa mensagem na garrafa aqui, é como aquela água fresquinha, de cachoreira, aquela no meio do mato, que sugere uma atenção maior a respeito de nossa “sanidade mental”, para que busquemos encontrar o equilibrio, de uma forma ou outra, em conciliar a luta pela sobrevivência, a luta por transformar o mundo, e a paz interior, para que a nossa existência não seja dragada pela máquina capitalista de moer gente, literalmente. Se tiver que pedir ajuda para o próximo, não hesite. Estar entre os seus, se torna potente. Cuidado com uma parcela da esquerda partidária, que julga o outro por não ter status. A espiritualidade pode ser uma aliada muito interessante e potente para a caminhada, tanto a nível individual, como social. Não deixe o samba, o punk, o reggae, o rap, seja o ritmo musical que for, morrer dentro de você. O cenário atual é bastante tenso e a extrema direita percebeu que (segundo eles) não tem espaço para todo mundo aqui no planeta, pois é um modo de vida deles, de se apropriar do que é natural, público, e não permitir que os outros modos de vida possam pensar e confabular entre si e com toda uma massa.
Como disse vários autores-filósofos-poetas, que um corpo alegre, é um corpo-forte-potente, é um corpo quem cria, quem imagina, quem encontra a coragem, em meio as nuvens tóxicas dos venenos industriais e das guerras. O medo é uma das armas que o espírito autoritário usa para entristecer um corpo. Logo, um corpo triste, adoece, se distancia de sua existência. Um corpo-rebelde pode se alegrar, evidentemente, mas que não perca a sua ternura de, poder se encontrar com outros corpos-rebeldes, querendo muita liberdade, e com muita coragem. O coração morre de desgosto, de abandono. O que deixa ele batendo não é somente o fluxo sanguíneo, mas a rebelde-alegria. É essa travessura que faz a comunicação chegar ao destino certo.
Saúde e anarquia!
Gabriel Ribeiro
À Margem
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Reflexões anarquistas sobre a sociedade descentralizada.
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