Na colonização a paz tem o papel de "praga"
Nesse texto: Na colonização a paz tem o papel de "praga". Eu critico o Estado autoritário, a colonização e a opressão econômica, analisando as resistências populares, especialmente no Brasil, Palestina e outras regiões colonizadas.
Gabriel Ribeiro
9/8/20246 min read
Está cansativo demais, viver com o peso de ter um Estado autoritário (desculpa a redundância). As costas doem. O joelho já não aguenta de tanta dor por conta da caminhada diária para o trabalho. O trabalhador está vendendo hora de almoço para aumentar a sua renda. Enquanto os guerreiros e guerreiras que estão "correndo atrás" em duas, três, ocupações, tem quem usufrua do tempo ócio. Para ser honesto, tem muita gente que faz esse uso por um engajamento e por compreender que o tempo ocioso gera fatores positivos para o corpo. Mas falo de quem arrota com bafo horrível alegando que "professor é igual traficante" e na verdade está sentadinho na cadeira de balanço na fazenda cheio de hectares que se transformaram em pasto. O rentista é quem quer apontar o dedo para nós, da classe operária, porque reivindicamos muitos direitos. E que assim seja, até o último suspiro! Não é heresia, como muito se viu no cristianismo que deu as mãos para o projeto colonial de qualquer esfera. É o corpo que sente mesmo, se engaja, se articula, cria conexões e avança, não porque tem peito de aço, mas pela necessidade de encontrar a liberdade.
O espírito colonial ou talvez aquilo que Carl Jung chamou-o de "inconsciente coletivo", ganhou uma tração extremamente tóxica e sutil que opera em muitas dimensões. No feijãozinho com arroz - que por sinal, seus preços estão dolarizados - podemos pensar que o projeto colonial visa, inicialmente, invadir a terra dos originários para expandir os seus interesses mercadológicos, para na sequência aplicar outras tantas violências, sobretudo no campo simbólico e cultural. Ainda em Jung, o autor cita o quanto os arquétipos (alguns) vão sendo cultuados e propagados sem que a consciência coletiva perceba dos comportamentos mecanizados nas diversas sociedades. Portanto, trago para esta proposição um fator que ao meu ver, torna imprescindível, para que possamos compreender o interesse majoritário do colonizador, que é o econômico. Frantz Fanon com muita habilidade demonstrou essa afirmativa em Pele Negra Máscaras Brancas, ao relatar a gana primária dos europeus diante do continente africano, sobretudo na região sul. As etnias e culturas que ali habitavam concebiam uma relação com a terra muito diferente da lógica expansionista-pedratória do colono europeu. Fanon ainda regista: a premissa do homem branco do norte era por interesse econômico mas ele criou um dispositivo que se estende por muito tempo, que é a crença da raça ariana como sendo superior às demais.
A estrutura colonial se estabelece para destruir tudo o que for possível ´referente ao nativo. Ele também destrói qualquer tipo de diversidade social. Para quem quer desbravar para roubar, em nome de poder e riqueza, certamente é capaz de realizar atrocidades de qualquer magnitude. Os modos de sociabilidades ressignificados pelos originários, pelas diáspora, pelo imigrante, pela massa, é uma ameaça do ponto de vista dos interesses da colônia. O tirano com a sua arma na cintura e a covardia no bolso esbraveja: como pode essa gente querer falar de autodeterminação, de autodefesa, de dançar e festejar em encontros secretos? Olha, você como eu, agora, estejamos a pensar a mesma coisa: uma incessante revolta. As formas de lutar, de resistir à lógica dessas imposições do Colônia-Estado-Nação, são imensas e variadas. De jeito algum me ocorre dizer qual seja a mais eficiente. Mas uma observação considero válido para nós enquanto libertários, estarmos pensando, no âmbito do cotidiano, que é a de canalizar o ódio, a raiva, diante dessas tiranais sociais, que vem de cima para baixo. Se na sua cidade estão indo para rua protestar contra a farsa da democracia liberal buguesa, é legítimo a sua vontade de estar presente. Se existe coletivo te convidando, idem. A minha questão não é a de amenizar nem buscar temperar a nossa comida sem os insumos ardentes de uma insurreição ou algo do tipo. Creio estar falando de estratégia e sabedoria para não cair em certas armadilhas. O jogo sujo e genocida que o Estado sionista de Israel faz com os palestinos é um troço que revela as intenções nuas e cruas de um regime político autoritário. O peso da canetada, do veto, do poder de decidir o que é terror e o que é "direito à autodefesa", faz com que vidas inocentes sejam literalmente destruídas.
Não sejamos românticos com grupos do naipe do Hamas, que também elimina vidas com tamanha arbitrariedade. Mas porque é o colonizador junto com uma instituição internacional (que tampa o sol com a peneira) é quem vai decidir a forma do outro de se defender? Na Palestina existem outras formas de se defender contra os sionistas de Isreal, inclusive ações diretas de anarquistas. São mais de 70 anos de tentativar de apagar Gaza e região do mapa do Oriente Médio. É no México com o Estado buscando desmantelar a resistência zapatista. Aqui no Brasil assistimos há mais de 500 anos um genocídio de indígenas. Tanta os seus saberes quanto os da diáspora africana, são sistematicamente violentados. Não se invade terra e território pelo suposto valor econômico que nela tem. Se invade para apagar o corpo e a cultura que insiste em pensar um mundo para além dessa concepção competitivista. É só pensarmos no que fazem com o Movimento dos Sem Terra (MST), o maior produtor de alimentos orgânicos do país, com uma rede imensa de produtores, de assentamentos com escola, produzindo ciência sofisticada, ocupando terra que já não cumpre mais a sua função social. Todas essas maravilhas de ações, não é mesmo, são sistematicamente atacadas por correntes poíticas de extrema direita.
Quem produz essa sociedade repleta de violência é a lógica da colonização. Através dessa articulação política e autoritária, é que a indústria armamentista fatura bilhões em dinheiro. O colonizador jamais vai tolerar que camponeses ou alguma comunidade ribeirinha, crie assembleias para discutir o que melhor atende as demandas comunitárias. Está tudo muito escancarado e assustador. Essa é a verdade. O professor Amir El Hakim, anarquista e professor universitário, vem levantando esta bola para que nós anarquistas e libertários, pensemos algum tipo de ação dentro dessa inóspita realidade. A intenção do colonizador é vencer não só pelo cansaço mas pelo medo. Se o outro tem medo, logo ele se enfraquece, perde as condições de inflamar os seus semelhantes. Para quem minimamente vem acompanhando algumas imagens do massacre de Isreal sobre a Palestina, talvez tenha visto uma cena na qual palestinos, depois de tantos bombardeios, mortes de crianças, estavam nas ruas manifestando com toda a coragem que carregam consigo. Não para se tornarem mártires, mas para dar continuidade ao que seus ancestrais iniciaram. A luta, a braveza, o ato de se encorajar, em meio a tanto sangue sendo jorrado por mísseis israenlenses, vem das profundezas de corpos que levam consigo a alma livre.
Afeganistão tempos atrás tinha universidades, um certo tipo de infraestrutura, com suas contradições inerentes a qualquer tipo de Estado, fora destruído por uma política externa dos EUA, provocada por interesses econômicos.
É importante termos a consciência de que jamais haverá a paz, o sosssego, do ponto de vista da liberdade para se organizar, dentro do modelo de democracia promovida por forças estatais. É urgente que tenhamos tamanha força de vontade para alastrar a coragem que cada um de nós carrega no seu interior e continuar lutando, da meneira que puder, atuando da forma que conseguir. Não deixemos o medo tomar conta. A paz, o tirano odeia. Não suporta, só se for a dele e a de sua família A nossa, esquece. Mas enquanto não tiver paz e liberdade para a massa em geral, que não haja para qualquer tipo de tirania.
Um espaço tranquilo, com ajuda mútua, sem competitividade, com moedas comunitárias, não haveria a necessidade de polícia, de armas em grande calibre. Existe o braço armado estatal para monitorar e amedrontar as diversas manifestações e grupos anticapitalistas. Israel vem bombardeando por muito tempo Gaza, principalmente. Foram negligentes com o aviso do Egito de que o Hamas iria atacá-los. Que convicção surge nesse momente? Eu digo: vamos provocar para que eles se utilizem da violência e nisso, encontramos "motivos" para eliminar os palestinos. Repare que esta situação ocorre no microssocial. Qunatas vezes já não te tiraram do sério, te humilhando, mexendo com sua dignidade, para assim que você reagisse, o mesmo pudesse usar isso contra você.
Os tribunais das mais variadas esferas, sobretudo os internacionais, julgam os fatos com a balança comercial. A paz tem que estar entre nós. O enfrentamento contra o modo dominante não pode cessar.
Gabriel Ribeiro
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Reflexões anarquistas sobre a sociedade descentralizada.
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