Impressões: A Utopia, de Thomas More. Editora Escala. Tradução: Luís de Andrade
Texto:Impressões: A Utopia, de Thomas More. Editora Escala. Tradução: Luís de Andrade Neste espaço, exploro questões sobre utopia e a luta por uma sociedade mais justa. Inspirado por "A Utopia", de Thomas More, discuto como o sistema burocrático-capitalista compromete a qualidade de vida e aprofunda desigualdades. Aqui, quero refletir sobre a importância de sonhar e agir em busca de um mundo sem miséria, onde o bem-estar coletivo e a conexão com a natureza sejam prioridade
Gabriel Ribeiro
9/29/20244 min read
Concluo esta leitura com um entusiasmo, digamos, utópico. Vamos com trocadilhos, com toda a força que temos para expressar aquilo que só pode sair de dentro de um corpo “amante” – por uma humanidade sem miséria, sem sofrimentos, sem escassez, sem política centralizadora, etc.. Esta obra também carrega consigo a serenidade, em perceber o quanto a “nossa” sociedade burocrática-capitalista é uma máquina de destruir qualidade de vida em massa. Um sistema covarde e cruel que se esconde no imaginário social. Posso discorrer mais sobre isso lá na frente. Deixa eu mencionar sem enrolação o quanto esta obra se caracteriza como um documento importante para que possamos ficar atentos e não perder os nossos sonhos de vista. A Utopia, embora um romance, é evidente que propõe um debate robusto e sofisticado a respeito de uma organização social pautada pelo respeito, amor e liberdade, além de uma relação íntegra com a natureza.
Thomas More discute no livro sobre a estratégia de autodefesa que toda nação (diferente da noção de Estado-Nação) que pretende se opor às maniais feudais, mercantilistas, de acumulação de poder, deveria se preocupar.
O autor inglês cria uma ilha chamada de Utopia para expor todas as ideias que estavam contidas em sua psique, por conta de suas experiências como diplomata que era. Um detalhe importante para o meio anarquista – no qual concebe a prática como pontapé inicial para a sua extensão teórica seja pavimentada sem danificar o solo e a nossa capacidade de se manter íntegro com a realidade que o cerca. Portanto “A Utopia” surge diante desse contexto repleto leis, desordem e de uma desigualdade desumana (licença pela redundância).
Este livro é um recado bem franco e honesto para todos aqueles que acreditam em uma sociedade com mais equidade e mais plural. Ler “A Utopia” beira o absurdo pensar que o mundo em que vivemos, se faça guerra, massacres, torturas, genocídios, em nome de poder econômico e político. A mim, ocorre dizer que este livro é como se fosse uma “mão”, digamos, divina ou espiritual, como queira, para que a chama de amor pela humanidade não se apague. Dentro do enredo proposto, há uma passagem interessante para se pensar o quão a luta é um processo contínuo.
Em um dado momento da estória, um personagem é indagado sobre o porquê dele ainda acreditar que no mundo dos “parlamentos”, onde os interesses particulares são colocados em primeiro plano – sendo assim, “quase impossível mudar a mentalidade dos “homens do Estado” – e portanto, porque ainda se deve acreditar que a luta por um mundo melhor seja digna de fazê-la, o orador utópico responde: quando o marinheiro está numa tempestade em alto mar, não significa que ele deva pular de sua embarcação e deixá-la à deriva, pois o marinheiro irá lutar até o fim para sustentar a sua navegação (vida). Então é assim com essa analogia, que tal passagem sugere para o leitor. Independente do “monstro” do autoritarismo, não se curvar a ele. Seguir seus objetivos antagônicos ao de uma sociedade extremamente desigual. No próprio livro o autor menciona como um aspecto espiritual, que faz se aproximar da divindade que cada ser humano carrega consigo.
Voltando a falar sobre o sistema que centraliza privilégios e as tomadas de decisões, e que ainda produz miséria e tensionamentos sociais perversos, são violências que invadem a dignidade de cada indivíduo, sem contar com a degradação das riquezas naturais. Veja você, como um sujeito que mesmo que tenha boas ideias, anseios por uma sociedade mais justa, vai conseguir manter o seu propósito, sonhos, de pé, se ao mesmo tempo ele tem que se preocupar em não morrer de fome?
Penso que a utopia de Thomas More seja ainda bem atual. De fato é uma obra-desabafo atemporal. Ela estrutura toda uma argumentação que, sendo levada a sério, não deixa um pingo de brecha para ser contaminada por nenhum liberal burocrata ou até mesmo um socialdemocrata “à esquerda”. O autor fala o óbvio. É bem da verdade que falo isso pensando os dias de hoje. Thomas More fala em sua época – 1500, 1600.
Como essa lógica de centralizar riquezas, de ditar o ritmo do andamento de uma sociedade, já existe há bastante tempo. BNegão em sua música já dizia: desde que o mundo é mundo ele nunca foi brinquedo, enquanto uns choram outros se apressam para vender o lenço, isso nunca foi segredo. A Utopia evidencia o quanto esta lógica egoísta e centralizadora, não pode deixar de ser questionada, pois não há nada de natural nem justo nela. O que há são vontades políticas e projetos de poder, para que uma pequena minoria possa ter todo o conforto e fartura, enquanto a maioria (trabalhadora) da sociedade, a perturbação de lutar para não adoecer com o sofrimento e o medo, de não passar fome e de se degradar existencialmente.
Uma sociedade utópica pensaria na coletividade, no bem estar de todos. Pensaria na relação íntegra com o espaço-tempo e a natureza, ou seja, sem a necessidade de explorá-la e acumular bens materiais. O dinheiro não teria a importância que se tem uma República expansionista.
A mensagem principal desse livro é que não deixemos morrer de dentro da gente o sonho de lutar por um mundo com mais equidade e com uma organização social mais íntegra com o meio ambiente em que a sociedade vem sendo forjada.
Observe como o discurso que se pretende hegemônico, consegue convencer a população de que é um “absurdo” aqueles que reivindicam a erradicação da fome no mundo. Se falar de habitação para essa gente, soa como uma premissa “anormal”. Vou ficar nessas para não cansar o amigo e a amiga. Espero ter sido relevante esta singela impressão sobre uma obra clássica e que ainda continua a navegar com muita resistência. Que sejamos teimosamente utópicos!
Gabriel Ribeiro
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Reflexões anarquistas sobre a sociedade descentralizada.
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