Desertar-se
Compartilho minha jornada de resistência às normas sociais e corporativas, abraçando minha intuição e buscando liberdade. Do burguês ao anarquista, encontro propósito e reflexão. Laroyê Exu
Gabriel Ribeiro
9/8/20242 min read
Dentro do ciclo de amizade, da infância, da própria família, e de parte da minha fase adulta, sobretudo em ambiente "underground", me marginalizavam por não ter uma discurso do "quero ficar rico" e por nao estar em um emprego fixo. Eles achavam que era por "vagabundagem" e não por falta de aptidão. Quando terminei a fase escolar, ingressei em uma faculdade particular do Rio de Janeiro; a minha vontade era se tornar um publicitário. No meio do curso, nas aulas que abordavam os pensamentos sociológicos e filosóficos, comecei a questionar as ilusões das propagandas - a completa falta de ética que elas se submetem para induzir o público a consumir "compre isso e seja feliz". Percebi que havia uma estrutura dos meios de produção muito bem montada e com tamanha perversidade.
Tranquei o curso de Publicidade e Propaganda e comecei a questionar os papos conservadores e reacionários que aconteciam nesses ciclos de amizades e no seio familiar. Só desperdício de energia. Sou formado por ambiente de classe média. Meu tempo foi outro. Aos 27 anos, saio de casa sem dinheiro algum no bolso. Embora eu tenha morado em condomínio, sempre gostei da rua, das farras, dos jogos no Maracanã, de ir para a praia de busão, etc. - só que nesse período, digamos, era uma relação de pequeno burguês com a rua.
Quando saio de casa por conta de uma humilhação do meu patriarca; começo a estabelecer outra percepção da rua. É o começo de uma libertação existencial. Passei a frequentar muita roda de rap, conheci pixadores e tudo o que as ruas do Rio podem oferecer. Passei a dormir no balcão do depósito de bebidas que o meu irmão tinha na época. Veja bem, não é a mesma história de superação de uma pessoa que cresce passando fome, sofrendo violência do Estado e da sociedade; só estou contando um pouco da minha caminhada e, inclusive, reconhecendo que, depois tive uma parcela de ajuda (econômica) dos meus pais.
Que obviamente era só pra eu poder ter um suspiro. No meio disso me apresentaram a fotografia - mergulhei de cabeça, o aluguel que eu dividia com meu irmão, encerrou. Me joguei no Vidigal, fotografando festas, passei a morar em hostel lá no morro e depois, em Laranjeiras e Santa Tereza (na Lapa).
A mensagem na garrafa que quero deixar aqui é, o meu corpo o tempo todo me dizia o que caminho que tinha que seguir. Mesmo passando perrengues materiais, não me ocorria arrumar emprego e ter que enquadrar o meu tempo, o meu modo de ser. A barba já era algo indispensável para mim. Carreguei peso em empresa que comercializava móveis, banheiras e mesas para crianças, produzi festas, fotografei, e mesmo muitas pessoas marginalizando a minha existência, não deixei nenhuma ideia externa invadir as profundezas do meu coração. Vi que refutar o enquadramento das regras corporativas, das normas sociais autoritárias, tem as suas consequências. Sustento elas. A gente percebe a hipocrisia de uma sociedade doente, que só sabe obedecer e que quando recebe o salário, acha que estar acima de qualquer coisa. A jornada de trabalho e a coleira do salário, fazem qualquer trabalhador tão dependente quanto quem tá sem renda, em situação de rua ou algum tipo de vulnerabilidade. Me considero um desertor dessa lógica burguesa de impor um modelo hegemônico de sociedade. Não se trata de romantizar. Mas firmei o que a natureza do meu corpo pedia. Consegui retomar os meus estudos e pesquisas.
Hoje produzo um canal anarquista, vou assumindo responsas, propondo reflexões. Uma coisa aprendi, não importa o quanto na adversidade um corpo está, a intuição sempre estará me dando as respostas. Nas encruzilhadas da vida, as coisas acontecem. Laroyê Exu!
Gabriel Ribeiro
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Reflexões anarquistas sobre a sociedade descentralizada.
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