A moça sem fronteiras

9/10/20242 min read

Na cidade das Porttas Aberttas, conheci uma moça muito instigante. Ela não tinha nenhum referencial de nacionalidade. Para a maioria dos acomodados dessa região essa moça era uma ilusão. Algo a ser suspeitado. Entretanto a moça que se chama Annar Kistta, parecia saber tanto do mundo como qualquer ser curioso e atento ao seu redor.

Annar Kistta vinha falar comigo que qualquer porteira existe para ser aberta. O medo fez com que boa parte da humanidade colocasse cadeados. Essa moça era motivo de ameaça para os que queriam engessar as relações. Annar Kistta não tinha medo de experimentar e propor. Uma moça que respeitava os desejos e vontades alheias. Algum homem inseguro logo a tratou de manchar a sua reputação. Para ele, a liberdade era sinônimo de "pensar demais" e permitia toda a população ali envolvida, sentir os prazeres (diversos) da vida. Portanto, ele não compreendia a forma de ser da moça Annar Kistta, sobretudo dela não ter traços pessoais definitivos. A sua face transmutava de acordo com as marcas de cada povoado.

Onde tinha problemas gerados por corpos enrijecidos, essa moça se juntava aos guerreiros e guerreiras para soltar essas musculaturas contraídas, blindadas, como Reich um dia falou. Uma criança muito da curiosa perguntou para essa moça se ela não tinha medo e se não achava perda energética lutar contra os corpos enrijecidos. A moça respondeu: não se trata de ser uma heroína nem criar fórmula pronta, menino, a questão é que a liberdade não percorre o trajeto por contra própria. Ela precisa de muito sangue para bombar as partes do corpo. E isso só é possível com os músculos relaxados, em pleno orgasmo. Sem as blindagens das tiranias.

O menino arregalou o olho e saiu correndo para sentar debaixo de uma árvore. Refletiu sobre o que a moça "sem pátria" dissera para ele. Deixou seu corpo mostrar pra ele o quanto suas células e moléculas precisavam andar como um rio dentro de si. Percebeu o quanto a terra ali vibrava na mesma intensidade de suas energias.

Saiu dali cheio de coragem, com uma força nunca sentida até então. No dia seguinte entrou numa livraria pra ler um livro que chamara a sua atenção: "O que tem atrás do véu?

Gabriel Ribeiro
À Margem