A chama anarquista acesa

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Gabriel Ribeiro

9/28/20243 min read

É muito enfadonho ter que se deparar com os moralistas de plantão, dos mais variados espectros políticos, sobretudo os que estão na esfera institucional, quando esses mesmos “enchem os vossos pulmões” para falar de uma pretensa “constituição moral”. Quando lhe convém, fala-se de seguir o que está no papel. O Estado-Nação vira um troço a ser cultuado como se fosse para defender uma espécie de “bem sagrado”, caso o contrário, esse outro, o questionador de toda estrutura burocrática e centralizadora, há de ser condenado como um “inimigo”.

E toda essa narrativa é categoricamente imposta ao nosso imaginário mental-social. Sem contar nos sentinelas que cotidianamente, estão fazendo as suas respectivas rondas – no seio familiar, religioso, profissional, pelas ruas, etc..

Quando é para a população, muito das vezes, precarizada, no sentido econômico, resolve burlar as leis “dos homens” – diga-se, do Estado-Nação – para conseguir manter as suas necessidades básicas e, ao menos, poderem ter um momento de afirmação da vida, logo, os “moralistas burocratas” entram em cena para impor uma domesticação naqueles corpos “ousados” ou “marginalizados”. Enquanto isso, no parlamento, seja num governo de direita ou de esquerda, a polícia, os meandros do aparato estatal, continuam com o seu modus operandi; aniquilando os povos indígenas, os negros e todo aquele corpo que “não gera” lucro monetário para o capitalismo.

Acredito que haja uma boa vontade por parte dos radicais, anarquistas, dos insurgentes, algo do tipo, de procurar entender o lugar que a esquerda institucional se encontra, mas vem a natureza de cada corpo “revolucionário” ou “conectado consigo mesmo”, para alertar que por esse caminho da via parlamentar, é o mesmo que jogar o jogo na “casa do tirano, com a regra dele”, ou seja, reformar para continuar o engendramento da máquina de acúmulo de capitais.

A verdade é que também tem muito intelectual de esquerda que gosta de ficar se movimentando no mesmo lugar, aquele que roda, roda, e não vai a lugar algum. Querem os benefícios dos bons salários, da reserva de emprego. Se você chega para um grupo desse e fala em transgressão, superação do Estado-Nação, você rapidamente recebe os olhares fulminantes. A esquerda partidária não lida com honestidade para com aqueles que ela diz defender. Um guerrilheiro já não suporta tanta mentira, tanto aprisionamento social. Nele habita um vigor para além do físico, que só a alma compreende como se manifesta internamente em seu corpo e quando se contagia com o seu semelhante.

Sei que, historicamente, aos anarquistas, eram denominados com aqueles também à esquerda. A história demonstra que eles sempre foram pelas causas dos mais vulneráveis e tal. Mas e hoje em dia, nesse contexto atual, com essa reconfiguração, é possível estar “à esquerda” junto com esses grupos que se dizem contrários aos privilégios mas que na prática eles também estão operacionando da mesma forma?!

A voz que sussurra aqui dentro de mim diz: nem direita nem esquerda, és um anarquista. Veja, vou repetir, não falo em ser niilista, e sim partir de uma premissa para além da direita e da esquerda (“que já morreu”), por uma via anarquista. Independente da tempestade que estiver acontecendo.

Creio que para nós anarquistas, seja importante sustentarmos aquilo que sabemos que surge da prática, da nossa capacidade de ler as realidades desse mundo, e que, se manifesta em nossa psique. A vida é movimento, ato contínuo, opera pela instabilidade das coisas. Isso faz sentido. E a anarquia que cultuo é essa que compreende a dinâmica social pela qual estou inserido.

Se o espírito é livre, por que não lutar por uma causa humanitária, e saber que dela vem a compreensão de se tratar de um processo, e uma busca constante, marginalmente instigante, em romper com as variadas tiranias sociais?

O anarquismo é rechaçado pelos grandes meios de comunicação porque suas práticas e teorias visam essa ruptura. Não trazem a falsa promessa de uma “fórmula pronta”. Apenas que um novo modo de pensar e construir uma sociedade leve em consideração a participação efetiva dos envolvidos nela. Esses mesmos “meios de comunicação” acabam protegendo os discursos da esquerda institucional, para introduzir ao imaginário social uma única forma “moral” de se portar diante do mundo.

Mas veja, para golpistas de extrema direita, o espaço na grande mídia é reservado. Só é permitida a “vagabundagem” que reforça a máquina do capitalismo funcionando. Para os críticos, “revolucionários”, fora do jogo-político-democrático-institucional, o peso da mão armada estatal.

A área de escape é um espaço legítimo para todo subserviso, não hesite em encontrar a sua. Continuemos as nossas respectivas investigações – sem romantizar parte do “povo” que também, em dado momento, tece as suas obscuras escolhas – para alimentar cada vez mais aquilo que Stiner e Deleuze, diriam: manter a chama do espírito-livre-à-espreita acesa dentro de nós.

Saúde e anarquia!

Gabriel Ribeiro
À Margem